Psicanálise e Clima

Em 29 e 30/11/2024, realizou-se o III Simpósio Integrado dos Departamentos de Comunidade e Culturas da SPPA, SBPdePA e SPPEL, Sociedades Psicanalíticas do Rio Grande do Sul, vinculada à FEBRAPSI/FEPAL/IPA.
O tema escolhido, “Crise Climática e Psicanálise: impacto na comunidade”, talvez, há alguns anos, pudesse gerar questionamentos sobre de que maneira a psicanálise se implicaria com a questão. Entretanto, há 5 anos, a IPA (International Psychoanalytical Association), em consonância com a sua visão - “o contexto de uma tempestade perfeita de ameaças ambientais, socioeconômicas, políticas, físicas e psicológicas” - criou um Comitê para discutir os impactos das mudanças climáticas sobre a psique humana e as lições que a psicanálise pode aprender e ensinar. Um grupo com ampla representatividade discute sobre as diversas questões associadas às questões.
O trágico acontecimento na nossa região, como sempre, não foi fortuito. Indesejável; contudo, não se pode dizer que foi imprevisto. Foi dentro do espírito proposto e pensado pela IPA, que as três Sociedades Psicanalíticas do Rio Grande do Sul, vinculadas à IPA (SPPA - Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre; a SBPdePA, Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre; e a SPPEL – Sociedade Psicanalítica de Pelotas) uniram-se na organização do Simpósio. A união das Sociedades na organização de alguns eventos tem criado uma salutar tradição de cooperação e desenvolvimento. Elas estarão novamente associadas como sociedades anfitriãs do 30º Congresso Brasileiro de Psicanálise da FEBRAPSI, a ser realizado em Gramado em 2025.
Tivemos um profícuo diálogo entre psicanalistas e representantes das áreas da biologia, botânica, pesquisa, engenharia, judiciário e educação em ciências. O clima afetivo propiciou com que rapidamente as diversas línguas se transformassem em uma espécie de Esperanto (na etimologia; aquele que tem esperança), na qual contribuições de cada área ampliavam e complementavam a compreensão sobre as questões. Nossos convidados sentiram-se muito à vontade. Adoraram e se apropriaram do termo e do sentido de “desmentida”. Pareceu-lhes um conceito/instrumento útil para trabalharem com seus pares nos embates com os negacionistas. A imagem do planeta como um organismo que está febril e, portanto, se nada for feito, próximo de uma descompensação sem retorno também soou forte.
Por outro lado, a implicação dos psicanalistas com a comunidade se apresenta como um caminho irreversível, estabelecendo-se como um quinto eixo na formação e na vida institucional. Em períodos de ameaças, como na canção Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brandt), soltar a voz; seguir caminhando, mesmo na estrada de pedra e, assim, voltar a sonhar, parece ensinar as medidas; afinal, temos muito a viver.
Foi um prazer representar o Departamento de Comunidade e Cultura da SPPEL, coordenado pela colega Catherine Lapolli e, também, a presidente da SPPEL, Beatriz Hax Sander.
O evento fez justiça à memória das colegas Joyce Goldstein (SPPA) e Ceres Leonor Tavares (SPPEL), perdas recentes; ambas foram lembradas e homenageadas pelo longo trabalho na vida institucional; em especial, como elo entre a psicanálise e a comunidade/cultura. Um legado do qual todos somos responsáveis de seguir desenvolvendo.
Hemerson Ari Mendes
Psicanalista SPPEL/FEBRAPSI/IPA
0 Comentários